Sci-Friday: Ex Machina (2015).
Hoje é sexta-feira e, como toda sexta-feira que se preze, tem Sci-Friday, a coluna semanal que traz ficção científica para a sua vida!
E o filme de hoje é Ex Machina (2015)!
Se você conhece a expressão “Deus ex machina“, já fica com a pulga atrás da orelha para assistir esse filme, não é? Inclusive esse tem sido um “recurso” muito usado em filmes de ficção científica nos últimos tempos, o que é totalmente contraditório. Mas Ex Machina não tem nenhum deus aparecendo no final para amarrar as pontas soltas, pelo contrário, o filme consegue amarrar todas as pontas e termina com aquela sensação boa de roteiro bem escrito.
Mas antes de falar do final dele, vamos falar do começo…
Caleb (Domhnall Gleeson) é um jovem programador talentoso, sendo reconhecido como um dos melhores da empresa em que trabalha. Sendo assim, ele acaba por vencer um concurso cujo prêmio era passar uma semana na casa do presidente da empresa, Nathan Bateman (Oscar Isaac). Nathan, que além de ser um gênio, vive recluso em meio a uma paisagem lindíssima.
Caleb é deixado de helicóptero próximo à casa em que vai passar uma semana. Após uma breve caminhada, ele encontra o local certo e conhece Nathan, que se mostra logo um playboy alcoólatra, afirmando que Caleb pode simplesmente passar a semana na casa ou participar de um dos maiores experimentos de todos os tempos.
Mas ele precisa manter segredo absoluto sobre isso.
Após considerar um pouco a proposta, Caleb resolve aceitá-la e assina um contrato que o obriga a ficar totalmente isolado na casa, tendo como companhia apenas Nathan, sua empregada Kyoko (Sonoya Mizuno) e… Ava (Alicia Vikander).
* * * ALERTA DE SPOILER * * *
Ava é um androide paranoide com inteligência artificial que nunca se relacionou com outras pessoas a não ser as moradoras da casa. Ava nunca saiu de casa e se mostra bastante consciente do que está acontecendo: Caleb tem a missão de executar o Teste de Turing com ela, ou seja, ele precisa testar Ava e decidir se ela tem consciência própria ou apenas simula ter uma consciência.
Em encontros chamados “sessões”, Caleb tem longas conversas com Ava e, nessas conversas, ela se mostra muito sedutora e totalmente consciente de si, até mesmo perguntando o que aconteceria com ela se não passasse no teste. Aos poucos, Ava consegue demonstrar seu ponto de vista para Caleb e afirma que gostaria de ficar com ele, fugindo da casa se fosse preciso.
Caleb passa a desconfiar de tudo, principalmente de Nathan, que tem abusado cada vez mais das bebidas e se mostrado um manipulador mentiroso… Caleb passa a desconfiar que ele mesmo é um androide, já que quase nada na sua vida parece real.
* * * FIM DO SPOILER * * *
O filme explora novamente o tema “inteligência artificial”, clichê há anos, mas com uma sacada bem diferente da usual, mostrando uma inteligência feminina com consciência própria, ou melhor, que precisa ser provada para ser considerada uma inteligência artificial perfeita. Alex Garland soube pesar a mão ao desenvolver o conceito da sua própria inteligência artificial, afirmando que ela é um resultado de TODOS os dados coletados através das redes mundiais, mostrando que a captura dessas informações é muito fácil para quem realmente tem interesse nisso.
Ao mostrar o ambiente controlado que Ava habita, é proposto o enigma de Mary/Maria, a super cientista:
“Maria é uma cientista brilhante que, por algum motivo, é forçada a investigar o mundo dentro de um quarto onde todos os objetos são nas cores preto e branco, inclusive o quarto. Sua ferramenta de estudo é um monitor preto e branco. Ela se especializa em neurofisiologia da visão e adquire, suponhamos, toda a informação física disponível sobre o que acontece quando nós vemos tomates maduros, ou o céu, ou uma banana, e usa termos como vermelho, azul, amarelo, etc. Ela descobre, por exemplo, qual a combinação de comprimentos de onda advindas do céu que estimulam a retina e exatamente como isto produz, por meio do sistema nervoso central, a contração das cordas vocais e a expulsão do ar dos pulmões que resultam na vocalização da sentença ‘o céu é azul’. […] O que irá acontecer quando Maria puder sair de seu quarto preto e branco ou receber um monitor colorido? Ela irá aprender alguma coisa ou não?”
Caleb faz um paralelo com Ava, afirmando que ela é Mary, detentora de um conhecimento infinito mas sem vivência de mundo. Ao ficar confinada, ela é uma inteligência artificial, ao sair e conhecer o mundo, ela se torna humana.
O filme é simplesmente magnífico e, numa análise mais profunda, perturbador.
Se você ainda não assistiu, tá esperando o quê?
E se você já assistiu e quiser tem um mind blowing ainda mais forte, recomendo fortemente a leitura desse texto: Nietzsche se encontra com Inteligência Artificial no filme “Ex Machina”.
Confira o trailer:
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