Pudim Amarelo

Pudim Amarelo #14 – Mistérios Marítimos

O Pudim Amarelo, spin-off do PudimCast apenas para tratar de mistérios e temas sobrenaturais, se aventura pelos sete mares para desvendar mistérios marítimos! Nesse episódio, Cintia Pudim e Ira Croft — diretamente do Mundo Freak —, vão em busca de navios fantasmas, lendas dos mares e histórias de pescador.

Embarque na expedição!

TRIÂNGULO DAS BERMUDAS

Um dos mistérios mais famosos dos mares é o Triângulo das Bermudas, uma região do Oceano Atlântico que abrange uma área de 2 milhões km² ligando três destinos turísticos: Flórida, Ilhas Bermudas e Porto Rico. Sua fama se dá pelas histórias que envolvem desaparecimentos de navios e aviões. O caso mais famoso é o do Voo 19.

TRIÂNGULO DAS BERMUDAS
Vista aérea do Triângulo das Bermudas

Voo 19

Na tarde de 5 de dezembro de 1945, cinco aviões Grumman TBF Avenger, carregando 14 pessoas no total, partiram da Base Aero-Naval de Fort Lauderdale, nos EUA, para uma missão de treinamento. Esse era o último exercício antes da formatura dos cadetes, e a esquadrilha iria simular um ataque com torpedos, seguido do retorno à base. O tempo estava limpo e as condições meteorológicas gerais foram consideradas dentro da normalidade para voos de treino desta natureza, porém, 90 após a decolagem, o capitão instrutor Charles Carroll Taylor, comandante da operação, entrou em contato com a base informando que estavam perdidos Ele também relatou que seus instrumentos não funcionavam direito, o que causava essa desorientação geográfica. Às 19h04, foi feito o último contato da esquadrilha. A essa altura, as condições meteorológicas já não eram favoráveis.

Aviões Grumman Voo 19 Triângulo das Bermudas
Aviões Grumman

Uma missão de busca em dois hidroaviões foi enviada logo em seguida. Cerca de meia hora depois, um dos hidroaviões, com 13 homens a bordo, enviou um relatório da sua posição, que era próxima da última localização do Voo 19, e não fez mais nenhum contato.

A causa do desaparecimento dos 5 aviões ainda é desconhecida, mas algumas teorias incluem mau tempo, navegação incorreta e fenômenos meteorológicos extremos. Já o desaparecimento do hidroavião parece ser resultado de uma explosão em pleno ar e, isso é sustentado pelos ocupantes do navio SS Gaines Mills que relataram chamas de uma explosão na posição em que o hidroavião se encontrava naquele momento, porém a única coisa que encontraram foi uma mancha de óleo nas águas do mar. O porta-aviões USS Solomons relatou rastrear os dois hidroaviões no radar, até que um deles tomou um rumo diferente e desapareceu do radar na mesma posição relatada pelo SS Gaines Mills. 

SS Cotopaxi

Em 1925, depois de ter vivido pelo menos dois outros incidentes, o navio SS Cotopaxi, que deveria levar carvão de Charleston, na Carolina do Sul, para Havana, em Cuba, desapareceu no mar. O capitão W. J. Meyer liderava a rota na companhia de uma tripulação de 32 pessoas e, no dia 1º de Dezembro, tentou se comunicar por rádio com alguma embarcação próxima avisando que seu navio estava lentamente sendo inundado pela água.

Apesar do chamado por socorro, demorou até o dia 31 de dezembro para que a ausência da embarcação fosse finalmente notada. Essa era a data que a carga deveria ser entregue.

SS Cotopaxi em 1920
An archival image of the SS Cotopaxi, taken in 1920.

Quase 100 anos depois de ter dado seus últimos sinais de existência, o barco foi finalmente reconhecido através de uma pesquisa nos antigos registros da corretora de seguros da embarcação. O historiador britânico Guy Walters, a pedido do biólogo marinho Michael Barnette, vasculhou diversos documentos e encontrou as coordenadas de onde Cotopaxi teria, supostamente, pedido socorro.

No local estava, na realidade, um naufrágio encontrado em 1985, que havia sido apelidado de Bear Wreck. Pesquisadores, no entanto, analisaram uma série de evidências e puderam constatar que, de fato, se tratava do barco americano perdido no Triângulo das Bermudas. Com isso, pelo menos um dos mistérios que rondavam a nebulosa área foi finalmente solucionado.

Marine Sulphur Queen

Outro caso de desaparecimento ligado ao Triângulo das Bermudas é do SS Marine Sulphur Queen, que carregava 39 passageiros e uma carga de enxofre de Beaumont, Texas, para Norfolk, Virgínia. O navio partiu no dia 2 de fevereiro de 1963 e, 4 dias depois, foi dado como desaparecido. Uma busca foi iniciada no Estreito da Flórida, onde se acredita que o navio tenha afundado, mas foi cancelada após 19 dias, quando foram encontrados coletes salva-vidas e alguns destroços, mas nenhum vestígio que pudesse ser atribuído ao navio ou aos 39 homens a bordo. 

Marine Sulphur Queen
Marine Sulphur Queen

Uma investigação da Guarda Costeira concluiu duas coisas: a primeira, é que o navio tinha “incêndios espontâneos” causados pelo acúmulo de enxofre. Era algo tão comum que simplesmente haviam parado de soar os alarmes. A segunda coisa é que a parte traseira do barco tinha um casco frágil e que poderia se romper.

A perda do navio e da tripulação sem deixar vestígios além de pedaços de destroços o colocou na lista de incidentes no Triângulo das Bermudas. Escritores do assunto colocaram este navio em todos os trabalhos, às vezes concordando com o relatório da Guarda Costeira, outras vezes apresentando suas próprias teorias. Vincent Gaddis foi o primeiro escritor a cunhar o nome “Triângulo das Bermudas” em seu artigo para a Argosy Magazine na edição de fevereiro de 1964, colocando o Marine Sulphur Queen como a primeira “vítima” do Triângulo que ele mencionou, apenas um ano após o naufrágio do navio:

“Com uma tripulação de trinta e nove pessoas, o petroleiro Marine Sulphur Queen iniciou sua viagem final em 2 de fevereiro de 1963, de Beaumont, Texas, com uma carga de enxofre fundido. Seu destino era Norfolk, Virgínia, mas na verdade navegou para o desconhecido…”

O próprio Gaddis não deu nenhuma teoria sobre o naufrágio e ignorou as muitas discrepâncias físicas e de pessoal citadas pela Guarda Costeira. O que ele fez foi reduzir a perda do navio para navegar “para o desconhecido”, como fizeram muitos escritores depois dele. O efeito foi deixar uma aura de mistério e, como tal, muitas teorias, algumas muito bizarras, foram postuladas para explicar o desaparecimento do navio.

OUTROS TRIÂNGULOS PELO MUNDO

O Triângulo das Bermudas não é o único lugar do mundo com essas histórias sinistras.

Triângulo do Lago Michigan 

Lago Michigan
Lago Michigan

Localizado entre Ludington, Benton Harbor e Manitowoc, nos EUA, o Lago Michigan também tem sua dose de mistérios. O primeiro caso data de 1891, quando a escuna Thomas Hume desapareceu à noite durante uma jornada para buscar madeira numa das margens do lago. Extensas buscas jamais encontraram sequer pedaços do barco.

Mas os casos inexplicáveis continuaram regularmente na região. Outro caso conhecido é o do barco Rosa Belle que, em 1921, desapareceu e foi posteriormente encontrado tombado, com sinais de colisão. Mas não havia registros de outros barcos na região — muito menos barcos também avariados. Onze pessoas morreram e o mistério perdura até os dias atuais.

A partir dos anos 50, também começaram a ser registrados problemas aéreos sobre o Triângulo do Lago Michigan. O voo 2501, da Northwest Airlines, desapareceu com 58 pessoas a bordo enquanto sobrevoava a região. Nenhuma dessas pessoas jamais foi encontrada, bem como destroços ou mesmo explicações para o que aconteceu.

NAVIOS FANTASMAS

A lista de navios fantasmas e suas histórias misteriosas cresce a cada ano, mesmo com o avanço da tecnologia de rastreamento e de segurança. Confira alguns dos casos relatados no episódio.

Holandês Voador

Imagine um navio que navega pelos mares há mais de 300 anos, sem nunca poder atracar em nenhum porto. Um navio que aparece e desaparece como um fantasma, assombrando os marinheiros que o avistam. Um navio que traz a morte e o azar para quem se aproxima dele. Esse é o Holandês Voador, o navio amaldiçoado.

Representação artística do Holandês Voador
Representação artística do Holandês Voador

A origem da lenda remonta ao século XVII, quando a Holanda era uma potência naval e comercial. Um capitão chamado Cornelius Vanderdecken comandava um filibote, um tipo de veleiro usado pela Companhia Holandesa das Índias Orientais para transportar mercadorias entre a Europa e a Ásia. Em 1680, ele partiu de Amsterdã com destino às Índias Orientais, com o objetivo de voltar cheio de especiarias, sedas e tinturas.

Tudo corria bem até que ele chegou ao Cabo da Boa Esperança, na ponta sul da África. Ali, ele encontrou uma tempestade violenta, que ameaçava afundar o seu navio e a sua tripulação. Os marinheiros imploraram ao capitão para voltar atrás, mas ele se recusou. Ele estava determinado a dobrar o cabo, custasse o que custasse.

Alguns dizem que ele estava louco, outros dizem que ele estava bêbado, mas o fato é que ele desafiou a ira de Deus com um juramento blasfemo. Ele disse: “Que eu seja eternamente condenado se eu não dobrar esse cabo, mesmo que eu tenha que navegar até o dia do juízo final”. Nesse momento, uma voz misteriosa respondeu: “Assim seja”.

A partir daí, o capitão Vanderdecken e o seu navio foram amaldiçoados a vagar pelos oceanos sem nunca encontrar a paz ou o descanso. Eles se tornaram o Holandês Voador, o navio fantasma. Dizem que eles só podem se comunicar com outros navios uma vez a cada sete anos, e que eles tentam enviar cartas para os seus parentes mortos. Quem aceitar essas cartas está fadado a morrer.

Muitos relatos de avistamentos do Holandês Voador foram registrados ao longo dos séculos, por marinheiros de diferentes nacionalidades e épocas. Alguns dizem que ele brilha com uma luz espectral, outros dizem que ele navega contra o vento. Alguns dizem que ele é um presságio de desgraça, outros dizem que ele é um sinal de esperança.

O mais famoso desses relatos foi feito por Jorge V, antes dele ser coroado rei da Inglaterra, e pela sua tripulação do HMS Inconstant, em 1881. Eles afirmaram ter visto o Holandês Voador perto da Austrália, com as velas vermelhas como sangue e os mastros cheios de fantasmas.

A lenda do Holandês Voador inspirou muitas obras de arte, como pinturas, poemas, livros e óperas. Uma das mais conhecidas é a ópera de Richard Wagner, chamada O Navio Fantasma, que conta a história de um capitão amaldiçoado que busca o amor de uma mulher fiel para se libertar da maldição.

Mary Celeste

Outro navio fantasma bastante conhecido é o Mary Celeste, que partiu de Nova Iorque com destino a Gênova, carregado de álcool e com uma tripulação de dez pessoas a bordo, contando seu capitão, Benjamin S. Briggs, sua esposa e a filha de dois anos. Semanas após sua partida, ele foi encontrado à deriva no meio do Oceano Atlântico, sem ninguém e sem sinais de violência. Essa é uma história real e com registros oficiais, mas o seu mistério gira em torno do que aconteceu para a tripulação sumir sem deixar rastros.

O Mary Celeste era um navio de 31 metros de comprimento que pesava 286 toneladas e era usado, basicamente, para comércio. No dia 7 de novembro de 1872, ele partiu de Nova Iorque com uma carga de 1700 barris de álcool destinados à produção de vinho na Itália. A seu lado estava outro navio semelhante, o Dei Gratia, comandado por David R. Morehouse, um amigo de Briggs. Os dois navios se separaram logo após a partida, mas combinaram de se encontrar em Gênova.

Representação artística do Mary Celeste
Representação artística do Mary Celeste

Tudo corria bem até que, no dia 4 de dezembro, o Dei Gratia avistou o Mary Celeste navegando de forma errática perto dos Açores. Morehouse ficou surpreso ao ver que era o navio do seu amigo, e mandou uma equipe para investigar. O que eles encontraram foi um cenário misterioso: o Mary Celeste estava abandonado, mas em boas condições de navegabilidade. As velas estavam içadas, mas algumas rasgadas. A carga estava intacta, com exceção de nove barris que estavam vazios. Os pertences pessoais dos passageiros e tripulantes estavam nos seus lugares, mas os instrumentos de navegação e o bote salva-vidas tinham desaparecido. O último registro no diário de bordo era do dia 25 de novembro, dez dias antes.

Onde estavam Briggs e os outros? O que os levou a deixar o navio? Essas perguntas nunca foram respondidas. O Dei Gratia levou o Mary Celeste até Gibraltar, onde as autoridades britânicas iniciaram um inquérito sobre o caso. As suspeitas recaíram sobre Morehouse e a sua tripulação, que poderiam ter matado ou sequestrado os ocupantes do Mary Celeste para ficar com a sua carga ou com o seu seguro. Mas não havia provas disso, nem de qualquer outro crime.

As teorias para explicar o mistério são muitas e variadas: uma explosão causada pelo álcool, uma tempestade ou um maremoto que assustou os passageiros, um ataque de piratas ou de lulas gigantes, uma revolta da tripulação contra o capitão, uma fuga para uma ilha próxima, uma alucinação coletiva provocada pelo álcool ou pelo medo, uma intervenção sobrenatural ou extraterrestre… Nenhuma delas é totalmente convincente ou satisfatória.

O Mary Celeste continuou a navegar com novos donos até 1885, quando foi propositalmente afundado por um capitão sem escrúpulos que queria fraudar o seguro. Mas a sua lenda permaneceu viva na imaginação popular, inspirando obras de arte.

Kaz II

O Mary Celeste não foi o único navio encontrado à deriva com sua tripulação desaparecida: em 2007, na Austrália, o Iate KAZ II, que havia zarpado com 3 pessoas a bordo, foi encontrado sem rumo, cerca de 5 dias após iniciar sua viagem. O empresário Derek Batten planejava fazer uma viagem de pesca e lazer com os seus dois amigos, Peter Tunstead e James Tunstead. Os três eram marinheiros com pouca experiência mas aventureiros destemidos.

No dia 15 de abril de 2007, eles partiram da costa nordeste da Austrália, com a intenção de navegar pelo norte do país, passando pela Grande Barreira de Corais. A duração estimada da viagem era cerca de seis semanas. Tudo corria bem até o dia 18 de abril, 3 dias após partirem. Os marinheiros fizeram contato por rádio com a família e disseram que estavam bem. Eles também apontaram a localização. Depois disso, eles nunca mais foram ouvidos.

No dia 20 de abril, um helicóptero avistou o KAZ II à deriva a 163 quilômetros da costa. O piloto achou estranho e avisou as autoridades marítimas, que enviaram um barco para investigar. O que eles encontraram foi um cenário intrigante: o KAZ II estava abandonado, mas em boas condições de navegabilidade. O motor estava ligado, mas o tanque estava quase vazio. A vela grande estava rasgada e enrolada no mastro. A mesa estava posta, com pratos e talheres. Havia comida e bebida nas cabines. Os pertences pessoais dos tripulantes estavam nos seus lugares, incluindo um laptop ligado e uma carteira com dinheiro.

Iate Kaz II
Kaz II | Reprodução

Onde estavam Batten e os irmãos Tunstead? O que os levou a deixar o iate? As autoridades iniciaram uma busca pelos tripulantes, cobrindo uma área de 740 quilômetros quadrados, mas não encontraram nenhum vestígio deles. Também foram analisadas as imagens do GPS e das câmeras do iate, mas nada parecia esclarecer o mistério.

As teorias para explicar o caso foram surgindo, principalmente com a cobertura da mídia: uma onda gigante ou um redemoinho teria arrastados os tripulantes para o mar, um ataque de tubarões ou de piratas poderia ter acontecido, uma intoxicação alimentar ou uma briga que resultou em homicídio ou suicídio, uma fuga para uma ilha próxima ou para outro país, uma abdução por alienígenas ou por agentes secretos… Nenhuma das teorias paeecia decifrar o mistério.

Em 2008, o juiz Michael Barnes tentou descobrir o que havia acontecido na embarcação e um inquérito foi aberto na cidade de Townsville, na Austrália. As principais dúvidas eram saber se os homens estavam mesmo mortos, como eles desapareceram e se a busca por eles foi feita da melhor forma possível. Foram ouvidas 27 pessoas que tinham alguma relação com o caso e foi possível reconstruir o que aconteceu.

O legista apontou a hipótese mais provável: “No domingo, 15 de abril de 2007, às 10h05, o Kaz II navegava nas proximidades de George Point. Até aquele momento tudo corria como planejado, mas, na hora seguinte, a situação mudou drasticamente. O relatório diz que a isca de pesca dos homens foi encontrada emaranhada ao lado do iate e uma explicação plausível seria que um deles tentou soltar a isca e caiu ao mar ao fazê-lo. Seu irmão veio em socorro enquanto Batten, ainda a bordo, percebeu que deveria soltar as velas rapidamente antes que pudesse voltar para buscar seus amigos. Ao deixar o leme para soltar as velas, um desvio do rumo do navio ou da direção do vento poderia facilmente ter causado uma instabilidade no iate e jogado Batten ao mar. Como o barco estava navegando a favor do vento a uma velocidade de 28 km/h, estaria fora do alcance dos homens em segundos. A partir desse ponto, o fim teria sido rápido. Nenhum deles era bom nadador, o mar estava agitado; os homens teriam se esgotado rapidamente e afundado nas ondas.”

Com isso, foi descartado crime e desaparecimento encenado.


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Edição do episódio: Audio Heroes

Cintia Pudim

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