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A estranheza que repele e atrai: conheça as backrooms.

Na semana passada (última semana de março/23), precisei ir a uma clínica fazer uns exames. Eu nunca tinha ido até essa clínica, mas a achei bastante confusa, como se tivesse saído da mente de algum arquiteto com inspirações abstratas e surreais, ou apenas como se tivesse crescido desordenadamente. O prédio parece ter tentado aproveitar cada cantinho possível, então, ao lado das rampas de acesso, brotaram jardins aleatórios, bancos e até mesmo duas vagas de garagem bem ao lado das portas de vidro (no final de uma rampa que vinha direto do estacionamento). Um milhão de recepções diferentes (obviamente perdi mais de 20 minutos na recepção errada) e até dois elevadores próximos um ao outro, mas não DO LADO, no “canto do prédio”, sendo necessário “virar a esquina” e subir uma rampa confusa para visualizar ambos ao mesmo tempo. Enfim, facinho de se perder por lá.

Uma boa representação do lugar é esse quadro da artista Anna Belleforte, o Spruced Up:

Spruced Up – BELLEFORTE, Anna

Mas de todas as coisas bizarras de lá (que não eram poucas), a que mais me chamou atenção foi o corredor anormalmente longo que precisei percorrer da recepção até a sala de espera e, quando eu digo anormalmente longo, EU NÃO TÔ BRINCANDO.

Aqui eu já faço um adendo.

Corredores são lugares de passagem, por isso é normal encontrarmos pessoas PASSANDO por eles, principalmente durante o horário de funcionamento de uma clínica de saúde.

Mas não foi o que aconteceu comigo enquanto percorri esse corredor. Tudo bem que não o percorri inteiro, apenas uma curta distância me separava da recepção à sala de espera (que envolveu uma curva à esquerda ao final dele) mas, sei lá, além do tamanho descomunal para um corredor (só pela quantidade de luzes dá pra se ter uma leve ideia da extensão), a falta de outras pessoas e o silêncio perturbador, me deixaram com uma sensação bastante estranha (e o que há lá no final?).

Um corredor longo e sinistro com o qual topei em uma clínica de Belém/PA

Fascinada pela estranheza, logo ao chegar na sala de espera, lembrei de um assunto com o qual eu já havia topado pela internet durante essas minhas andanças online, as “Backrooms“. Aproveitando que eu teria uma longa espera pela frente (quase tão longa quanto o corredor pelo qual eu tinha acabado de passar), resolvi pesquisar sobre o tema. Esses são os principais pontos que encontrei.

O que são as backrooms?

Como toda boa creepypasta, ou lenda urbana de internet, as backrooms tem sua origem mais ou menos conhecida, tendo sua primeira aparição creditada a um tópico postado no fórum /x/ do 4chan, em 12 de maio de 2019. Nele, um usuário anônimo pedia que as pessoas postassem fotos perturbadoras ou simplesmente desconfortáveis. A primeira foto postada, ao que tudo indica, foi essa aqui, que mostra um corredor levemente inclinado com paredes amarelas.

Quanto mais se olha para a foto, mais estranha ela fica. Seja o ângulo, a sensação de ter paredes tortas, o carpete que parece mofado e molhado ou a parede que sequer chega ao teto, tudo nela causa desconforto… E uma sensação de familiaridade, como se, em algum momento, já tivéssemos passado por um lugar parecido com esse (ou visto em alguma série dos anos 80/90).

A backroom original

A história começa a crescer…

Como tudo que está na internet, principalmente nas redes sociais ou nos fóruns digitais, as pessoas começam a aumentar as histórias e teorizar sobre o que estão vendo. Essa estranheza que repele e atrai, começou a ganhar suas próprias teorias, como o fato de que esses locais são usados para “acessar” outras dimensões ou realidades através de algo chamado “noclip”, um cheat (código/trapaça) muito usado em games onde se entra em áreas proibidas derrubando as barreiras físicas delas. Para os seguidores das teorias das backrooms, esses corredores são capazes de nos levar a outros níveis, perigosos e desafiadores, capazes de conter segredos inimagináveis.

“Se você não for cuidadoso e ‘noclipar’ nas áreas erradas, acabará nas Backrooms, onde não há nada além do fedor de carpete velho e úmido, a loucura dos tons monocromáticos amarelados, o ruído interminável de luzes fluorescentes em intensidade máxima, e aproximadamente seiscentos milhões de milhas quadradas de salas vazias segmentadas aleatoriamente para te prenderem.”

backrooms.fandom.com (tradução livre)

Em um esforço coletivo mundial, centenas de pessoas estão classificando os níveis de acordo com o que pode ser encontrado neles, desde objetos a “Entidades” e, claro, dando dicas do que levar e como sobreviver a cada um deles. Cabe lembrar que, logo no primeiro nível, é IMPOSSÍVEL encontrar outro ser humano. Se tu fores te aventurar, CUIDADO. Aqui tem uma pequena lista dos primeiros níveis, confira:

Nível 0 – O Lobby

Seguro | Estável | Desprovido de Entidades Nocivas
A backroom original se tornou o nível 0, o Lobby

Todas as salas encontradas no Nível 0 compartilham as mesmas características, como o papel de parede monocromático já gasto, o carpete velho e úmido, as tomadas espalhadas e a iluminação fluorescente posicionada de forma inconsistente. Apesar disso, as salas nunca são iguais, sendo possível caminhar em linha reta, dar a volta, fazer o mesmo caminho e encontrar todo um novo conjunto de salas diferentes, mas com as mesmas características das salas anteriores.

Sala Manila

Anomalia | Estabilidade Desconhecida | Desprovida de Entidades Nocivas
Sala Manila, The Backrooms

A Sala Manila, na verdade, é uma sala gerada aleatoriamente enquanto a pessoa está no Nível 0, podendo ser acessada através de noclip ou atravessando uma porta ligeiramente diferente das outras. A sala é isolada e bastante vazia, podendo conter apenas uma mesa e algumas cadeiras, além de um papel pardo de cor diferente do Nível 0. Uma vez dentro da sala, os visitantes costumam ouvir batidas e sons de máquinas do lado de fora, provavelmente vindos dos outros níveis das backrooms.

Nível 1 – Zona Habitável

Seguro | Estável | Contagem Mínima de Entidades Nocivas
Nível 1 – Zona Habitável, The Backrooms

Aparentando ser um longo estacionamento que vai se convertendo em um estreito corredor, o Nível 1 apresenta um ambiente cinza com pisos e paredes de cimento e concreto, vergalhões e luzes fluorescentes fracas, além de uma névoa baixa sem fonte identificável e que acaba se condensando e formando poças no chão. 

Atenção! As luzes podem se apagar a qualquer momento e, quando isso acontecer, Entidades hostis podem aparecer. Nessas horas, é importante evitar fazer ruídos e encontrar uma sala que possa ter sua porta bloqueada por dentro. Para sobreviver a esse nível, além de alimentos, é importante levar uma fonte de luz confiável.

Nível 2 – Sonhos Impossíveis

Inseguro | Estável | Baixa Contagem de Entidades Nocivas
Nível 2 – Sonhos Impossíveis, The Backrooms

Ao chegar no Nível 2, o explorador vai se deparar com longos e escuros corredores de manutenção recheados de tubos de vapor revestindo as paredes e tetos, como se estivesse caminhando pelos corredores de grandes fábricas. Neste nível, portas raramente são encontradas e, na maioria das vezes, elas levam a salas que abrigam prateleiras de metal e mais dutos de ventilação. Eventualmente, algumas salas contém máquinas desconhecidas conectadas a esses canos. Os corredores podem atingir mais de 90°C.

Itens aleatórios deixados por outros exploradores podem ser encontrados nas prateleiras de metal ou mesmo nos corredores, fornecendo recursos valiosos para os andarilhos, como água, comida ou kits de primeiros socorros. 

Nível 3 – Estação Elétrica

Inseguro | Estável | Contagem Moderada de Entidades Nocivas
Nível 3 – Estação Elétrica, The Backrooms

Ao chegar no Nível 3, também conhecido como “A Estação Elétrica”, o cenário se tornará bastante diferente, com o explorador encontrando um amplo complexo de corredores de tijolos e diversas máquinas elétricas espalhadas que, aparentemente, alimentam outros níveis das Backrooms, sendo impossível seguir os fios e canos para descobrir suas finalidades.

Neste nível, são encontradas algumas janelas, na maioria das vezes protegidas por barras e impossíveis de serem alcançadas ou quebradas. Apesar do elevado número de Entidades, elas tendem a ficar longe das salas que têm janelas, sendo excelentes esconderijos quando elas surgirem.

Nível 4 – Escritório Abandonado

Seguro | Perigos Naturais Frequentes| Contagem Moderada de Entidades Nocivas
Nível 4 – Escritório Abandonado, The Backrooms

Após passar pelos estranhos primeiros 3 níveis (considerando que o explorador não caiu em nenhum sub-nível ou nível anômalo), o Nível 4 é, provavelmente, o primeiro a trazer uma sensação real de familiaridade ao apresentar um ambiente que lembra um grande Escritório Abandonado, daí o seu nome, com uma estrutura ampla e vazia. Apesar disso, a familiaridade acaba aí, pois o Nível 4 é totalmente desprovido de móveis e outros acessórios que normalmente se encontraria em um escritório. Ao analisar com mais atenção, é possível notar manchas no carpete que parecem indicar que, em algum momento, o local esteve ocupado por móveis, mas não oferece nenhuma pista do que aconteceu.

Este nível possui um efeito inédito, que é a presença de “estações” chamadas assim devido aos padrões climáticos externos observáveis pelas janelas e que mudam a cada poucos meses a uma taxa consistente. Para facilitar, os exploradores as chamam de “Primavera”, “Verão”, “Outono” e “Inverno”, respectivamente, contrastando com o esquema de cores cinza e monocromático do ambiente interno.

Nível 5 – Hotel do Terror

Inseguro | Estável | Baixa Contagem de Entidades Nocivas
Nível 5 – Hotel do Terror, The Backrooms

Depois de tantos ambientes monocromáticos, é hora de piscar os olhos perante todas as cores do Nível 5, um grande complexo hoteleiro com infinitos quartos e salões. O nível em si parece seguir uma decoração da década de 1930, com móveis que datam de 1920. Nele, existem três áreas principais: o grande salão, o Salão Beverly e a sala da caldeira.

O centro principal desta área é o Beverly Room, muitas vezes referido como “The Eternal Ballroom”, o Salão Eterno. O gigantesco salão tem portas nas paredes leste e oeste, cada uma levando a uma área diferente do hotel ou da caldeira. A outra área, conhecida “The Boiler”, a Caldeira, é uma série de grandes corredores com teias de aranha e tetos altos de gesso manchado ou paredes de concreto, com muitas áreas inacessíveis. Seus longos corredores são quentes e secos com um cheiro de fumaça que enche o ar. 

Quantos níveis são? Existe uma saída?

Segundo relatos dos exploradores, os níveis são praticamente infinitos porque, além dos já conhecidos (ou quase conhecidos) 1000, existem os sub-níveis, os níveis anômalos, os negativos e uns níveis especiais que não parecem se encaixar em nenhuma dessas classificações. A forma mais segura de explorar as Backrooms é ir preparado e levar o máximo de suprimentos possíveis, mas ter claro para si que essa pode ser uma aventura sem volta.

A forma mais fácil de voltar é saber dominar o noclip antes de se aventurar pelos níveis mais perigosos das Backrooms, sendo possível treinar ainda no Nível 0. Se for se aventurar acompanhado, importante lembrar que, no Nível 0, não será possível encontrar ninguém.

Alguns níveis contém colônias amigáveis, então negociações podem acontecer, bem como solicitar abrigo em determinados lugares. Estar pronto para tudo é imprescindível nessa aventura.

As teorias por trás das Backrooms

Existem diversas teorias sobre as Backrooms, sendo essas aqui as mais aceitáveis:

  • Teoria da colisão

Alguns cientistas teorizam que as Backrooms são um universo alternativo que acabou colidindo com o universo real, resultando nessas conexões entre os dois, o que torna possível a viagem entre eles.

  • Tese Kauer

Essa teoria afirma que as Backrooms, na verdade, são uma ideia trazida à vida como resultado da crença na sua existência, ou seja, as Backrooms existem porque pessoas acreditam nelas. Esse conceito parece ter raízes no budismo tibetano.

  • Teoria do governo

Essa teoria se refere à hipótese de que as Backrooms, na verdade, foram um projeto de governos para testar o tunelamento quântico, teletransporte e a utilização da geometria não-euclidiana, o que acabou levando também à criação dos níveis, Entidades, objetos e outros aspectos das Backrooms devido a erros de cálculos durante os experimentos.

Outras mídias

Com as Backrooms crescendo em popularidade na internet, elas foram ganhando outros formatos, com diversas pessoas explorando esses níveis em vídeos e documentando através de fotos, além de popularem fóruns, como o Backrooms Fandom (de onde saíram a maioria das informações desse post, incluindo as imagens), o Backrooms Wiki e os diversos grupos do Facebook, Reddit e outras redes.

Em 2022, um jovem diretor (jovem mesmo, ele tinha apenas 16 anos) publicou alguns curtas explorando as Backrooms. Claro, tudo criado e dirigido por ele, mas o sucesso foi tão grande (quase 47 MILHÕES de visualizações no vídeo principal no momento em que escrevo) que a fucking A24 já anunciou que vai produzir um longa baseado na história criada por ele. Confira aqui a playlist:

Dan Erickson, criador da série Severance (Ruptura em Português), cita as Backrooms como uma de suas influências. A série, que aborda a estranha e semi-onírica rotina de um grupo de trabalhadores corporativos, traz cenários que beiram o perturbador por seus grandes vazios e tons pastéis.

Severance/Ruptura

Assim como a SCP Foundation, as Backrooms estão evoluindo para um esforço coletivo onde diversos escritores (amadores ou não) estão criando uma verdadeira mitologia em torno dessa ideia, dando vazão a diversas outras criações, com novidades todo dia. Acreditando ou não, cuidado para não noclipar na área errada!


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Cintia Pudim

Blogueira | Podcaster | Cafeinólatra | Social Media